banhos, memórias, pálpebras: "para lavar e se fazer de novo"
entre a parede de gelo e o muro verde, a cidade cinza encurta os dias e embora as tardes continuem demoradamente amarelas como sempre as noites não me pertencem como antes eu queria ter mais tempo para compor uma balada enquanto o café coa ou uma prosa que ecoe mais do que as cordas mas as notam carregam tantas inconsistências que as coisas escapam aos meus olhos então volto a pensar em paredes e na vida que existe além dos cadernos eu queria ter tempo antes que escorram pelo ralo as palavras de manutenção arrancadas com força do meu peito em dias tão curtos, o que respiro parece valer menos: só os banhos me salvam me aborrece lembrar o que não tornei real porque guardei me entristece saber que, por não ter lhes dito, algumas coisas sentidas jamais se tornaram matéria do mesmo modo, as mulheres que amei, à quem dedico tudo o que escrevo, sequer existem mais porque não antecipei as suas partidas. muito menos admiti o quanto me habitavam. hoje percebo que todo o proble